“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” 1p6h25
O 4º Domingo da Páscoa é considerado o âDomingo do Bom Pastorâ, pois todos os anos a liturgia propõe, neste domingo, um trecho do capÃtulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como âBom Pastorâ. Ã, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
A primeira leitura afirma que Jesus é o único salvador, já que ânão existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvosâ (neste âDomingo do Bom Pastorâ dizer que Jesus é o âúnico salvadorâ equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direcção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.
O Salmo 117 – A pedra que os pedreiros rejeitaram/ tornou-se agora a pedra angular.
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. à porque nos ama com um âamor irávelâ que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua famÃlia e tornar-nos âsemelhantesâ a Ele.
O Evangelho apresenta Cristo como âo Pastor modeloâ, que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar nâEle de forma incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para âescutarâ as propostas que Ele faz e segui-lâO no caminho do amor e da entrega.
Reflexão 42182r
Este Quarto Domingo da Páscoa é conhecido como Domingo do Bom Pastor, pois nele se lê sempre um trecho do capÃtulo 10 de São João, onde Jesus se revela como o Bom Pastor. Mas, o que isso tem a ver com o tempo litúrgico que ora estamos vivendo? A resposta, curta e graciosa, encontra-se na antÃfona de comunhão que o Missal Romano traz: âRessuscitou o Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho!â Aqui está tudo!
âEu sou o bom pastorâ â disse Jesus. O adjetivo grego usado para âbomâ significa mais que bom: é belo, perfeito, pleno, bom. Jesus é, portanto, o pastor por excelência, aquele pastor que o próprio Deus sempre foi. Pela boca de Ezequiel profeta, Deus tinha prometido que ele próprio apascentaria o seu rebanho: âEu mesmo cuidarei do meu rebanho e o procurarei. Eu mesmo apascentarei o meu rebanho, eu mesmo lhe darei repousoâ (34,11.15). Pois bem: Jesus apresenta-se como o próprio Deus pastor do seu povo!
Mas, por que ele é o Belo, o Perfeito, o Pleno Pastor? Escutemo-lo, carÃssimos: O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. à por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida; eu a dou por mim mesmo! Tenho o poder de entregá-la e o poder de retomá-la novamente; esse é o preceito que recebi do meu Paiâ. Amados irmãos, são palavras de intensidade inexaurÃvel, essas! Jesus é o pastor perfeito porque é capaz de dar a vida pelas ovelhas: ele as conhece, ou seja, é Ãntimo delas, as ama, e está disposto a dar-se totalmente pelo rebanho, por nós! E, mesmo na dor, faz isso livremente, em obediência amorosa à vontade do Pai por nós! Por amor, morre pelo rebanho; por amor ressuscita para nos ressuscitar! Nós jamais poderemos compreender totalmente este mistério! Jesus diz que conhece suas ovelhas como o Pai o conhece e ele conhece o Pai! à impossÃvel penetrar em tão grande mistério! Conhecer, na BÃblia, quer dizer, ter uma intimidade profunda, uma total comunhão de vida. A comunhão de vida entre o Pai e o Filho é total, é plena. Pois bem, Jesus diz que essa mesma comunhão ele tem com suas ovelhas. E é verdade! No batismo, deu-nos o seu EspÃrito Santo, que é sua própria vida de ressurreição; na eucaristia, dá-se totalmente a nós, morto e ressuscitado, pleno desse mesmo EspÃrito, como vida da nossa vida! De tal modo é a união, de tal grandeza é a comunhão, de tal profundidade é a intimidade, que ele está em nós e nós estamos mergulhados, enxertados e incorporados nele! De tal modo, que somos uma só coisa com ele, seja na vida seja na morte! De tal sorte ele nos deu o seu EspÃrito de Filho, que São João afirma na segunda leitura de hoje: âSomos chamados filhos de Deus. E nós o somos!â Compreendamos, irmãos: somos filhos de verdade, não só figurativamente! Somos filhos porque temos em nós a mesma vida, o mesmo EspÃrito Santo que agora plenifica o Filho ressuscitado! E São João continua, provocante: âSe o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai!â Ou seja: se, para o mundo, nós somos apenas uns tolos, uns nada, se o mundo não consegue compreender essa maravilhosa realidade â que somos filhos de Deus â é porque também não experimentou, não conheceu que Deus é o Pai de Jesus, o Filho eterno, o Bom Pastor, que nos faz filhos como ele é o Filho único, agora tornado primogênito de muitos irmãos! Mas, a Palavra de Deus nos consola e anima: âQuando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é!â Este é o destino da humanidade, este é o nosso destino: ser como Jesus ressuscitado, trazer sua imagem bendita, participar eternamente da sua glória! Para isso Deus nos criou desde o princÃpio! Não chegar a ser como Jesus ressuscitado, não ressuscitar com ele â nesta vida já pelos sacramentos, e na outra, na plenitude da glória â é frustrar-se. E isso vale para todo ser humano, pois âem nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos!â Por isso mesmo, Jesus afirma hoje, pensando nos não-cristãos: âTenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor!â
CarÃssimos, voltemos o nosso olhar para Aquele que foi entregue por nós e por nós ressuscitou. Olhemos seu lado aberto, suas mãos chagadas. Quanto nos ama, quanto se deu a nós! Agora, escutemo-lo dizer: ââEu sou o bom pastor! Eu conheço as minhas ovelhas! Eu dou a minha vida pelas ovelhas!â Num mundo de tantas vozes, sigamos a voz de Jesus! Num mundo de tantas pastagens venenosas, deixemos que o Senhor nos conduza à s pastagens verdadeiras, que nos dão vida plena e sacia nosso coração! Num mundo que nos tenta seduzir com tantos amores, amemos de todo coração Aquele que nos amou e por nós se entregou ao Pai!
Hoje é também jornada mundial de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Peçamos ao Senhor, Bom Pastor, que dê à Igreja e ao mundo pastores segundo o seu coração, pastores que, nele e com ele, estejam dispostos a fazer da vida uma total entrega pelo rebanho; pastores que tenham sempre presente qual a única e imprescindÃvel condição para pastorear o rebanho do Bom Pastor: âSimão, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!â (Jo 21,15s). Eis a condição: amar o Pastor! Quem não é apaixonado por Jesus não pode ser pastor do seu rebanho! Não se trata de competência, de eficiência, de vedetismo ou brilhantismo; trata-se de amor! Se tu amas, então apascenta! Como dizia Santo Agostinho, âapascentar é ofÃcio de quem amaâ.
Que o Senhor nos dê os pastores que sejam viva imagem dele; que Cristo nos faça verdadeiras ovelhas do seu rebanho. Amém.
D. Henrique Soares
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