Nossa Senhora das Candeias na devoção popular 56525d
Andesrson Gallo/ Diário Corumbaense
A festa religiosa dedicada a Nossa Senhora das Candeias ou Senhora da Luz, ocasionalmente é celebrada em dois de fevereiro que, segundo a Tradição, esta é a data na qual a Igreja se refere à memória da Festa Litúrgica, celebrando a Apresentação do Senhor e também a purificação de Maria, ambas ocorridas no Templo conforme Lc 2,34-35. Esta festa está particularmente ligada ao episódio da apresentação do Senhor no Templo, por duas razões: Em primeiríssimo lugar por conta da tradição judaica, segundo a qual, uma mulher ao dar à luz a uma criança, após quarenta dias teria, necessariamente, que ir ao templo para ser purificada, como foi o caso da Virgem Maria. “Segundo a tradição mosaica, após o parto, as parturientes eram consideradas impuras e deveriam ir ao Templo, quarenta dias após o nascimento de seus filhos, para se apresentarem ao Sumo-Sacerdote e oferecer seus sacrifícios. Sendo assim, após o nascimento de Jesus, Maria e José se dirigiram até Simeão para cumprir este preceito. Por isso nasceu a Festa da Apresentação de Jesus no Templo e também a Festa da Purificação de Nossa Senhora” . Em segundo lugar, porque Nossa Senhora apresenta o Menino Jesus ao Templo, como “Luz das Nações”.
Além de ser uma festa religiosamente popular, também é uma festa com significados teológicos, encontrados na agem do Evangelista Lucas. Neste contexto, “pela devoção popular, nos primórdios do cristianismo, a festividade de Nossa Senhora era denominada “das Candeias” porque comemorava-se o trajeto de Maria até o Templo, com uma procissão, na qual os devotos portavam velas acesas durante o trajeto. A procissão dos luzeiros é proveniente de um antigo costume dos romanos”. Por essa razão o Papa Gelásio I (492-496) instituiu um cortejo noturno com aspectos solenes em homenagem a Nossa Senhora, convidando os fieis a participarem com círios e velas acesos cantando hinos em honra a nossa Senhora. Segundo o costume popular, este evento religioso era festejado sempre na data de dois de fevereiro, como acima foi narrado.
Com o apoio da Igreja, na pessoa do Papa Gelásio I esta celebração propagou-se por toda a Igreja Romana e, em 542, Justiniano I instituiu-a no Império do Oriente após ter cessado uma peste. No entanto, é importante lembrar que as festas religiosas começaram a ser celebradas com procissões de velas a partir do século X, um pouco mais tarde, mas que fazem memória e celebram a fé em Maria e em seu Filho Jesus. Por isso que devemos ressaltar a importância e o significado desta festa e deste titulo de Senhora da luz, em vista de Cristo Jesus e não dela mesma.
Segundo o que pesquisamos: “Nossa Senhora das Candeias fez sua aparição no ano de 1400, em uma praia da ilha de Tenerife (Ilhas Canárias, Espanha). Os nativos da ilha, que eram conhecidos como guanches, sentiram medo da Virgem e tentaram atacá-la, mas não conseguiram, já que a aparição paralisou suas mãos. Depois disso, guardaram a imagem em uma caverna, onde, após vários anos, foi construída a Basílica Real da Candelária (em Candelária). Anos depois, a devoção chegou até a América, onde se espalhou ainda mais. Nossa Senhora da Candelária é a padroeira das Ilhas Canárias” .
Segundo o contexto teológico, Maria não era a luz, mas, apresenta seu Filho Jesus como “Luz das Nações” que veio para iluminar as trevas de nossos pecados. Todavia, é na fragilidade de uma criança, símbolo de pureza e de humildade, que será o sinal que se traduz aqui como queda dos poderosos e elevação para os humildes, como Lucas relata na agem em que Jesus foi apresentado ao Templo, para a circuncisão. Com isso, Maria se torna para nós cristãos, o modelo de fé que, através das manifestações populares, nestas festas religiosas, podemos caminhar, com ela, rumo à Luz verdadeira que é Jesus Cristo.
Em todo tempo festivo e fora dele, não se pode jamais esquecer que “a luz trazida por Jesus é tão nova e única, que somente ele nos pode introduzir nela, mediante a experiência que dele fazemos. Ele em pessoa é o caminho que devemos percorrer, se desejarmos compreender a verdade e a vida. Para seguir esse “caminho” com a própria vida, também Maria deve ser ajudada a compreender o que não consegue entender” . Ela poderia não entender tudo o que lhe estava acontecendo, mas, “Maria conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 1,19). Assim como Maria, devemos também fazer a experiência deste “Clarão” em nossas vidas, a cada festa que celebramos, deixando nos envolver por essa Luz que ela trás consigo e que em hipótese alguma nos desviemos deste caminho que ilumina os povos, Jesus, seu Filho.
Por ocasião de sua festa neste mês de fevereiro, peçamos a Virgem Maria que nos mostre o caminho da Luz, da Paz, da concórdia e do amor, sobretudo nestes tempos hodiernos de tantos conflitos entre as nações, de guerras destruidoras que abalam o mundo por conta da violência humana. Tempos difíceis em que as pessoas são consideradas como objetos descartáveis, as cidades destruídas, histórias desfeitas pela ganância e prepotência de muitos que se intitulam “poderosos”, capazes de travar guerras insanas e espelhar o terror. A guerra, para muitos, é sinal de lucro, de poder, de domínio e controle das pessoas e Nações. Há muitos “poderosos” guerreando em nome da “paz”, fazendo reféns muitos inocentes e deixando marcas brutais de violência pelos destroços causados pela guerra. Mesmo diante deste caos e destes conflitos, sabemos que só Deus é poderoso e está no controle de tudo, pois ele confunde os “poderosos” desta terra com o nascimento de uma criança, humilde e frágil, que é para nós, “a Luz que brilha nas trevas”.
Oh! Nossa Senhora das Candeias, que trazes nos vossos braços esta Luz tão pura, te pedimos: apresenta-nos a teu Filho Jesus e pede por nós, que recorremos ao vosso maternal auxilio, para que possamos convosco caminhar, atravessando este mundo que está mergulhado nas trevas das discórdias e convosco, n’Ele, alcançarmos a salvação que esperamos! Amém!
Pe Jerônimo Campos da Silva, sacerdote pertencente ao clero diocesano de Tianguá-Ce. Estudou Filosofia na Faculdade Católica Rainha do Sertão em Quixadá-Ce e possui Licenciatura em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza-CE. Atualmente é vigário paroquial da Paróquia – Santuário de Nossa Senhora do Livramento no distrito do Parazinho, município de Granja-CE e também é Assistente Eclesiástico Diocesano do Apostolado da Mãe Rainha.