Liturgia dominical › 02/05/2014

“Fica conosco Senhor.” 4r1m2q

da disegno 9x9cm 2000 circaA liturgia deste domingo convida-nos a descobrir esse Cristo vivo que acompanha os homens pelos caminhos do mundo, que com a sua Palavra anima os corações magoados e desolados, que se revela sempre que a comunidade dos discípulos se reúne para “partir o pão”; apela, ainda, a que os discípulos sejam as testemunhas da ressurreição diante dos homens.

A primeira leitura, Actos 2, 14.22-33 mostra (através da história de Jesus) como do amor que se faz dom a Deus e aos irmãos, brota sempre ressurreição e vida nova; e convida a comunidade de Jesus a testemunhar essa realidade diante dos homens.

Salmo 15 – Aleluia, Aleluia, Aleluia

A segunda leitura, 1 Pedro 1, 17-21 convida a contemplar com olhos de ver o projeto salvador de Deus, o amor de Deus pelos homens (expresso na cruz de Jesus e na sua ressurreição). Constatando a grandeza do amor de Deus, aceitamos o seu apelo a uma vida nova.

É no Evangelho, Lc 24, 13-35, sobretudo, que esta mensagem aparece de forma nítida. O texto que nos é proposto põe Cristo, vivo e ressuscitado, a caminhar ao lado dos discípulos, a explicar-lhes as Escrituras, a encher-lhes o coração de esperança e a sentar-se com eles à mesa para “partir o pão”. É aí que os discípulos o reconhecem.

Reflexão

No Tempo Pascal a Igreja vive, celebra e testemunha sua certeza, aquela convicção que a faz existir e sem a qual ela não teria sentido neste mundo: “Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio dele entre vós. Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue nas mãos dos ímpios e vós o matastes pregando numa cruz… Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. Exaltado pela Direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo prometido e o derramou…” Este é o núcleo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, a inspiração para a nossa vida e nossa ação, isto é, para nossas atitudes concretas, nossa vida moral.

Na Liturgia da Palavra deste Domingo, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho de hoje! O que há aí? Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: aí, os discípulos conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido com Jesus. Mas, os acontecimentos, lidos somente à nossa luz, segundo a nossa razão e os nossos critérios, são opacos, são tantas e tantas vezes, sem sentido… Por isso, no coração e no rosto daqueles dois havia tristeza e escuro; eles estavam cegos e tristes… Dominava-os o desânimo e a incerteza: esperaram tanto e, agora, só restava um túmulo vazio… Mas, à luz do Ressuscitado – quando o experimentamos vivo entre nós – tudo muda, absolutamente. Primeiro o coração arde no nosso peito. Arde com a alegria e o calor de quem vê um sentido – e um sentido de amor e de vida – para os acontecimentos da existência, mesmo os mais sombrios: “Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na glória?” Que palavras impressionantes! São as mesmas dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura: “Deus em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue…” Aqui, compreendamos bem: só na fé se pode penetrar o mistério e ultraar o absurdo! Então, com Jesus, na sua luz, os olhos nossos se abrem e reconhecemos Jesus, experimentamo-lo vivo, próximo, como Senhor, que dá orientação, sustento e sentido à nossa vida! Sentimos, então, a necessidade de conviver e compartilhar com outros que fizeram a mesma experiência, todos reunidos em torno daqueles que o Senhor constituiu como primeiras testemunhas suas – os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos em comunhão com o Sucessor de Simão, a quem o Senhor apareceu em primeiro lugar dentre os Apóstolos. É assim que somos cristãos; é assim que somos Igreja!

Esta é, portanto, a certeza dos cristãos, a nossa certeza! Hoje somos nós as testemunhas! Hoje somos nós quem devemos pedir: “Mane nobiscum, Domine!” – “Fica conosco, Senhor!” Somente seremos cristãos de verdade se ficarmos com o Senhor que fica conosco, se o encontrarmos sempre na Palavra e no Pão eucarístico. Nunca esqueçamos: os discípulos sentiram o coração arder ao escutá-lo na Escritura e o reconheceram ao partir o Pão! Esta é a experiência dos cristãos de todos os tempos. João Paulo Magno, precisamente na sua Carta Apostólica Mane nobiscum Domine afirmava essa necessidade absoluta de Cristo, necessidade de voltar sempre a ele: “Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história da humanidade. Tudo é recapitulado nele. Cristo é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude de suas aspirações. Nele, Verbo feito carne, revelou-se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. Nele, o homem encontra a redenção e a plenitude!” (n. 6).

O mundo atual – e o mundo de sempre – deseja apontar outros caminhos de realização para o homem; outras possibilidades de vida… Os cristãos não se iludem! Sabemos onde está a nossa vida, sabemos onde encontrar o caminho e a verdade de nossa existência: em Cristo sempre presente na Palavra e na Eucaristia experimentadas na vida da Igreja! Repito: este é o centro da experiência cristã; e precisamente daqui brotam as exigências de coerência de nossa vida: “Fostes resgatados da vida fútil herdade de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro sem mancha e sem defeito. Antes da criação do mundo ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, ele apareceu por amor de vós!” Eis, que mistério! Antes do início do mundo o Pai nos tinha preparado este Cordeiro imolado, para que nele encontrássemos a vida e a paz! Por ele alcançamos a fé em Deus; por ele, nossa vida ganhou um novo sentido; por ele, não mais pensamos, vivemos e agimos como o mundo das trevas! E porque Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, estão firmadas na Rocha! “Vivei, pois, respeitando a Deus durante o tempo da vossa migração neste mundo!” Vivamos para Deus e manifestemos isso pelo nosso modo de pensar, falar, agir e viver!

Irmãos! Irmãs! Não tenhais medo de colocar em Cristo toda a vossa vida e toda a vossa esperança! É ele quem nos fala agora, na Palavra, e agora mesmo, para que nossos olhos se abram e o reconheçamos, ele mesmo nos partirá o Pão. A ele a glória pelos séculos! Amém.

D. Henrique Soares da Costa

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